Belo Horizonte, julho de 2019. O cruzeirense Nivaldo Bicalho, dono de uma mercearia com o seu sobrenome, no bairro de Santa Tereza, aguardava, animado, a presença de 60 botafoguenses. A poucos quilômetros dali, o Glorioso enfrentaria o Atlético, no Independência, pelas oitavas de final da Copa Sul-Americana. Horas antes de a bola rolar, no entanto, um número muito maior de alvinegros apareceu no pré-jogo, ritual sagrado para quem acompanha o Mais Tradicional longe do Rio de Janeiro. Nivaldo, ou melhor, o Nivas detalhou, ao Jogada10, o início de uma parceria de sucesso com os cariocas.
“O Nenel, do Baixa Gastronomia (perfil no Instagram), fez a propaganda. O Dep (Setor Visitante) e o Mascherano (torcedor que é a cara do ex-jogador argentino) seguiram a dica e, 11h da manhã, já estavam no meu bar. O Botafogo jogaria cedo naquele dia. A amizade começou ali. Eles ficaram de trazer a turma toda da próxima vez. Só que, no meio do ano, veio tanta gente que não demos conta. Mais de 300! Precisei, então, de ajuda. O povo passava rápido, de ônibus, por ali, olhava um monte de camisa preta e branca e perguntava como poderia haver tanto atleticano em bar de cruzeirense. Tudo encabulado! Só descobriram mais tarde que era a torcida do Botafogo”, divertiu-se.
Três anos depois…
A partir dali, os botafoguenses adotaram o Mercadinho Bicalho, ou Bar do Nivaldo, como point dos jogos no Horto. Em maio de 2022, após atravessar uma Série B do Brasileirão e, principalmente, uma pandemia de Covid-19, a massa alvinegra pôde, enfim, se reencontrar com a mercearia. Contra o América-MG, mais de mil torcedores da Estrela Solitária passaram por Santa Tereza antes de caminhar até o Independência.
“Os botafoguenses criaram uma identidade conosco. É sempre muito bom recebê-los. Uma grande alegria. Estão em casa. Voltem sempre e fiquem à vontade. Futebol é interação e amizade. E a torcida do Botafogo é top demais”, disse Nivaldo, que, certa vez, fez questão de lembrar de sua agradável surpresa quando notou, em seu bar, um sotaque carioca em um dia sem jogos na redondeza.
‘É aqui onde os botafoguenses se concentram?’
Nesta quarta-feira (18), contra o Coelho, pela 27ª rodada do Campeonato Brasileiro, não será diferente. Afinal, o adversário disponibilizou uma carga de 6.500 ingressos para o líder isolado do torneio. A festa, então, será ainda maior para conduzir o líder a mais um triunfo na caminhada rumo ao tricampeonato nacional.
Porém, a fama não ficou restrita ao universo alvinegro. Antes de tudo, a invasão despertou muita curiosidade nas torcidas adversárias.
“Já veio até torcedor do Fluminense e Vasco perguntando se era aqui onde se concentravam os botafoguenses. Legal demais”, pontuou o Nivas, com seu acento deliciosamente mineiro.
Sirvam-se, botafoguenses!
Querido pelo povo mineiro, o Mercadinho Bicalho está localizado em um bairro bem notívago. Aliás, é o berço do Clube da Esquina, álbum eternizado pela dupla Milton Nascimento/Lô Borges, além de um dos grandes movimentos da história da nossa música popular.
Santa Tereza é quase a Lapa dos belo-horizontinos. A vantagem é que tem menos barulho e mais boemia. De manhã, a atmosfera bucólica lembra uma cidade do interior. À noite, contudo, há muita juventude e resenha nos botequins.
Na mercearia, além da cerveja estupidamente gelada, o visitante encontrará alguns dos melhores petiscos da cidade. Destaque para o torresmo de barriga, a almôndega do Nivaldo e o queijo derretido da Serra da Canastra. A equipe de reportagem do J10 esteve no local e atestou: tratam-se de iguarias de altíssima qualidade.
Segue, portanto, o líder. E segue o Nivas!
Siga o Jogada10 nas redes sociais: Twitter, Instagram e Facebook.
Comentários