Roberto Assaf

Roberto Assaf: ‘Sim é ele, Beckenbauer, disse meu pai’

No intervalo de três dias morreram dois dos três personagens que foram campeões do mundo como atletas e treinadores. Zagallo (aos 92 anos) e Franz Beckenbauer (78 anos). O outro, o francês Didier Deschamps, é menino perto deles. Tem só 55 anos. Mas Beckenbauer levava pelo menos duas vantagens sobre a dupla. Está entre os 10 maiores craques de todos os tempos. E talvez tenha sido o mais elegante jogador da história.

É isso. Houve uma época em que a TV engatinhava. E raras vezes exibia partidas do exterior. Ao longo da Copa de 1966, por exemplo, a última sem transmissão direta para o Brasil, era necessário aguardar o dia seguinte para ver o teipe. E eis que na vitória de 5 a 0 sobre a Suíça, surgiu um monstro que comia a bola, marcando dois belos gols, sinalizando que o seu objetivo era efetivamente o de mudar o destino do jogo coletivo.

Beckanbauer, a elegância em forma de jogador de futebol. E um supercampeão – Foto: Reprodução/Youtube Bundesliga

Beckenbauer in loco

Beckenbauer, que já era uma realidade em seu país, nasceu para o mundo naquela competição, que disputaria em outras quatro ocasiões, duas no campo, e duas como técnico, chegando sempre entre os quatro primeiros. Campeão em 1974 e 1990, terceiro em 1970 e vice em 1986. Vê-lo ao vivo, pois, era um privilégio, e este que vos escreve só teve o gostinho em quatro ocasiões. Mas teve. No Maracanã, em três delas: Brasil e Alemanha, 2 a 2, em 1968, Fluminense 1 a 0 Bayern Munique, em 1975, e Flamengo 4 x 1 New York Cosmos, em 1977. E na Copa de 1974, na decisão contra a revolucionária Holanda, no velho – ainda novo – Estádio Olímpico de Munique, pertinho da fábrica da BMW, espécie de Beckenbauer dos automóveis.

Sim, é ele!

Em 1966, este menino aqui, que contava 11 anos de idade, já havia “ouvido falar” do alemão. E visto sua foto na World Soccer, a Bìblia da época, que meu pai comprava para que eu pudesse “aprender inglês”. Até constatar, durante a Copa da Inglaterra, na telinha em preto e branco, que ele, Franz, existia de verdade. Em 1968, este menino aqui, que tinha 13 anos, acompanhou o cara ao vivo, correndo pelo sagrado gramado do Maracanã, num sábado noturno de sonho, mostrando a sua capacidade de organizar o time, de jogar futebol como quem cumpre uma tarefa qualquer da maneira mais simples e objetiva possível. “Sim, esse é Beckenbauer. Ele mesmo”, dizia meu pai.

É de se imaginar o elegante Franz desfilando na semifinal de 1970, com o braço na tipóia, para espanto e desespero dos italianos. É de se imaginar o elegante Franz na decisão de 1974, alertando outro gênio da bola, Johann Cruyff, que muito antes deles, ainda na base do 1860, ainda menino, ele já ocupava posições diferentes, e que o carrossel – como era chamada a seleção laranja – não era necessariamente uma novidade.

Logo, é de se imaginar o elegante Franz desfilando por Bruxelas, sim, a capital da Bélgica, afirmando aos adversários – russos da União Soviética na decisão européia de seleções de 1972 e espanhóis do Atlético de Madrid na decisão européia de clubes de 1974 – que iria vencê-los, como fez, de goleada, pois já mostrara aos companheiros que futebol não é apenas um duelo de 11 contra 11, mas uma prática que exige profissionalismo e continuidade dentro e fora do campo.

Um gênio

Sim, pois a propósito, Beckenbauer, ao contrário do que costumam dizer, não era “um defensor”. O craque jogava atrás, no meio, na frente, a qualquer momento, em todos os lugares. E brilhava em situações distintas. Mais do que vê-lo, foi ainda mais fascinante trocar palavras com o cidadão, no Maracanã, e ouvi-lo contar como superou as dificuldades impostas por uma Alemanha em reconstrução, ele que veio ao planeta meses depois do fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, e cresceu em uma Munique, terra natal, que levou séculos para recuperar a normalidade.

Beckenbauer, como milhões de alemães, aprendeu as adversidades que traz um conflito de grandes proporções, e não só foi prático e realista, como os conterrâneos, mas soube complementar tais qualidade como só um autêntico artista faz, sem mau humor e arrogância.

Top 10 do futebol

Não cabe discutir aqui e agora quais seriam os outros oito maiores craques de todos os tempos. Pois Pelé e Beckenbauer estão entre eles. Sem saudosismo algum, não seria exagero afirmar que o time lá de cima está ficando invencível.

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Carlos Alberto

Repórter, setorista da Seleção Brasileira, colunista e editor do Jornal dos Sports entre 1998 e 2000. Editor, colunista e editor executivo do LANCE! de 2000 a 2020, Editor-chefe do Jogada 10 desde 2020. É formado pela Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha-RJ) e participou de coberturas de 6 Copas do Mundo (4 como enviado, 1 como chefe de reportagem 1 como editor-chefe), 2 Copas Américas, 1 Eurocopa, 2 Mundias de Clubes, 1 Olimpíada e 6 Champions League.

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