Rogério Ceni x Abel Braga: a chance de dar o troco no passado

Após algumas “finais antecipadas” que um torneio de pontos corridos pode proporcionar ao longo dos meses, o Campeonato Brasileiro de 2020 ganha, enfim, a sua verdadeira decisão na penúltima rodada. Flamengo e Internacional, com perfis totalmente opostos, medem forças no Maracanã, no próximo domingo (21/2), dia sagrado para o torcedor. Nos bancos de reservas, Rogério Ceni e Abel Braga têm a chance de dar o troco no passado, mesmo pertencendo a diferentes gerações de treinadores do país e separados por 20 anos de idade.

O Colorado, treinado por Abel Braga, foi o adversário que tirou o tetracampeonato da Copa Libertadores do São Paulo de Rogério Ceni, em 2006, quando o atual técnico do Flamengo defendia as traves do Tricolor do Morumbi. A ligação com o clube gaúcho não para por aí. Nascido em 1973, o ex-goleiro era apenas uma criança quando Eurides Ceni celebrava o histórico tricampeonato nacional do Inter (1977/1978/1979), em uma fazenda no interior do Mato Grosso. Neste fim de semana, Rogério tentará impedir o fim de um jejum de 41 anos do clube de coração do pai. Basta não perder para permanecer vivo para a derradeira jornada do BR-2020. Uma derrota coloca um ponto final na briga.

Se o Internacional é o carrasco histórico de Ceni, Abelão vê no Flamengo alguns insucessos marcantes ao longo de sua extensa trajetória no futebol. Em 2004, apesar de ganhar o Carioca, ele era o treinador que comandava o Rubro-Negro na final da Copa do Brasil perdida para o Santo André, em pleno Maracanã. Em 2019, retornou ao clube da Gávea, desta vez, com a instituição muito mais forte e estruturada financeiramente. Ganhou o Estadual novamente, classificou a equipe para as oitavas de final da Libertadores, mas caiu por não apresentar um futebol convincente à Nação. Além disso, saiu estigmatizado por frases, como sentenciou que “era normal o Flamengo perder para o Inter no Beira-Rio”.

NO LUGAR DE ESTRANGEIROS

Rogério Ceni, assim como Abel, não ficou imune a críticas pesadas nos últimos tempos. Bem sucedido no Fortaleza, o ex-goleiro não conseguiu domar os egos no vestiário do Cruzeiro na temporada 2019 e foi demitido. Pouco tempo depois, retornou ao Nordeste para retomar o rumo na carreira e, no ano seguinte, chamar a atenção do Flamengo, que o convocou para substituir o catalão Domenec Torrent, em novembro. Em dezembro, tinha acumulado mais eliminações do que vitórias, com decisões muito questionadas à beira do campo. A artilharia pesada cessou quando o técnico fez o Rubro-Negro jogar bem na sequência Palmeiras-Grêmio-Red Bull Bragantino e até perfilar-se como o principal concorrente do Internacional na disputa pela liderança do Brasileirão.

Abel Braga, por sua vez, desembarcou no Rio Grande do Sul para ocupar o lugar do cultuado argentino Eduardo Coudet, de viagem marcada para trocar o Gigante do Beira-Rio pelo modesto Celta, da Galícia (ESP). Curiosamente, na mesma data na qual o Flamengo apresentava Rogério Ceni. Em Porto Alegre, o pessimismo reinava com o novo treinador e era justificado pela passagem conturbada pelo Flamengo, além dos trabalhos ruins por Cruzeiro e Vasco. O Colorado de Abelão, então, contrariou as expectativas negativas com nove vitórias consecutivas no Brasileiro, incluindo um Gre-Nal e um categórico 5 a 1 sobre o São Paulo, no Morumbi. Um recorde na era dos pontos corridos.

O jovem Rogério Ceni (48) ou veterano Abel Braga (68) contribuem com 99% de chances de o título brasileiro ficar na Cidade Maravilhosa ou às margens do Guaíba. O São Paulo se apega ao seu 1%, mas a combinação improvável para conseguir o milagre afasta o Tricolor dos holofotes nesta prévia. A final é mesmo no domingo, no Maracanã. A duas rodadas do fim, o Internacional soma 69 pontos, contra 68 do Flamengo.