Vários clubes brasileiros foram a campo com mensagens contra o racismo. O movimento ganhou força em consequência da morte por asfixia de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos, após violenta ação de dois seguranças de uma filial do supermercado Carrefour, em Porto Alegre. O episódio jogou gasolina na fogueira e foi o estopim para que explodisse uma série de manifestações pelo país. Como sórdido ingrediente, ocorreu em 19 de novembro, véspera do Dia da Consciência Negra.
O protesto, a mobilização, o apoio e a solidariedade de jogadores e clubes de futebol podem nos estar mostrando alguma mudança. Quem sabe? Podem também, logicamente, não passar de mais algumas faixas ou nomes nas camisas, mais uma onda, entre tantas outras que inundam o esporte de vez em quando.
O ponto positivo, se é que existe um ponto positivo em ação tão cruel contra um homem desarmado e imobilizado, é que mais uma vez algumas vozes do futebol surgiram, embora ainda de forma tímida e abafada, para gritar por Justiça. O mundo da bola não é um mundo à parte, uma bolha de alienação. Não mesmo! Não é possível tolerar cânticos homofóbicos nas arquibancadas, ofensas racistas dentro ou fora dos gramados, palavras grosseiras com as mulheres. Não podemos, jamais, nos calar diante da violência, da falta de liberdade, da intolerância, da imposição covarde da força contra pobres, negros ou quem quer que seja.
Estamos no meio de uma batalha inglória contra o Coronavírus, mas, dentro de cada um de nós, a guerra tem que ser mais abrangente, sempre a favor da vida. Ninguém pode ser humilhado, desprezado, desrespeitado, espancado ou assassinado pela cor da pele, pela roupa que veste, pelo local onde mora ou pela quantia que tem no banco… ninguém! Talvez um dia possamos esquecer os gritos de dor das vítimas da intolerância e consigamos soltar somente os de comemoração, como um desafogo num gol que exorciza séculos de horrenda opressão. Quem sabe…