Um Maracanã preto, verde e branco

A imagem do palco iluminado, preto e vermelho da cabeça aos pés, com 80 mil pessoas, utilizada para convencer a Sul-Americana a realizar a final de 2020 da Libertadores no Maracanã, será muito diferente daquela que os cartolas rubro-negros prometeram aos olhos ainda mais devoradores da entidade continental.

Isso aconteceu antes da decisão do Mundial de Clubes, no Catar, quando o Flamengo tinha um time espetacular, que permitia especular pelo menos dois de hegemonia no futebol, no Rio, no Brasil e no exterior. No entanto, e ao contrário do dito popular, quem já foi rei perde a majestade. Ter pouco, ou nenhum, é terrível. Mas dinheiro demais também atrapalha. Pergunte a quem viveu as duas situações. Era imprescindível ganhar do Liverpool. Aquela derrota é imperdoável sob todos os sentidos, e ocorreu porque a ambição e a soberba atingiram a todos – dirigentes, preparadores, jogadores, mídia e torcida – que têm alguma ligação com o Flamengo, levando o esquadrão que poderia ganhar o status de maior vencedor da história do clube carioca e chafurdar na lama com as derrotas e as crises intermináveis que surgiram. A decadência começa naquela discussão mesquinha e lamentável sobre prêmio no dia de enfrentar o time inglês.

Pois o palco iluminado, se confirmado como local da disputa, terá o verde do Palmeiras, o preto do Santos, e o branco comum a ambos, os times que fizeram as melhores campanhas da Libertadores de 2020, deixando evidente para os cartolas do Flamengo que dinheiro e poder, em ordem alfabética, não representam tudo na vida. Sim é preciso ressaltar que existem situações incontroláveis que podem derrubá-las, levando-se em conta que a pandemia, algo absolutamente imprevisto pelo planeta, foi (e continua sendo) atingiu a todos, sem distinção.
Pois Palmeiras e Santos souberam administrar problemas e soluções, e até os escorregões prováveis em uma competição complexa, como quedas diante da LDU Quito e do River Plate, e agora brigarão de maneira justa pela taça.

Pois vamos lá. Abordando o futebol propriamente dito, não seria absurdo dizer que o elenco do Palmeiras é superior, mais experiente e com maior número de recursos, mas é certo que o Peixe foi mais eficiente nas semifinais, realizando partida razoável em Buenos Aires, obtendo um bom 0 a 0, e passou o rodo na Vila Belmiro, vencendo como quis.

Do outro lado, qual será o Verdão que entrará em campo dia 30? O que deu um autêntico passeio no River, em Avellaneda, ou o que sobreviveu, graças ao VAR, no Allianz? Aqui um parêntese: vale dizer que todas as correções apontadas foram corretas, mas sem o recurso eletrônico, não há dúvida, o Palmeiras não teria ido adiante. Há também o fato de que a decisão será realizada em jogo único, ou seja, se o time que é (ou se considera) melhor bobear no dia, não há uma segunda chance para recuperação.

Pena que seja uma decisão sem público, cercada de restrições protocolares, o que não impedirá, porém, que os dois paulistas possam fazer do Maracanã o recreio dos bandeirantes. Na realidade, os cartolas da Sul-Americana não perderam nada com a impressionante derrocada do Flamengo, tanto que continuam distribuindo fortunas, que abarrotam hoje, aliás, e de forma merecida, os cofres de Palmeiras e Santos, enquanto os rubro-negros continuam discutindo sobre a mesquinhez do prêmio sobre o Liverpool.