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Zé Roberto, ex-Fluminense nos anos 70, exclusivo: ʽFred precisa se aposentarʼ

Zé Roberto, ou José Roberto Padilha, começou a carreira apoiador mas, com a chegada de Zagallo ao Fluminense, em 1971 (o Lobo acumulava o cargo com o comando da Seleção) foi alçado à ponta esquerda, posição que nem existe mais. Ele fez parte da montagem da Máquina Tricolor, sendo titular absoluto, em 1975, até a contratação de Mário Sérgio – craque da bola que morreu no desastre da Chapecoense quando já tinha se aposentado e era comentarista.

Zé Roberto foi um dos grandes astros do Flu nos anos 70 – Arquivo Pessoal

Fã do bom futebol, ele vê o Fluminense com vantagem no jogo deste domingo  (na ida da semifinal do Carioca contra o Botafogo), mas se surpreendeu com a dedicação dos alvinegros que, a seu ver, mereciam o empate. Polêmico, acha que chegou a hora do ídolo Fred se despedir dos gramados. Por fim, Zé Roberto revela outra faceta: além do grande jogador que foi, ainda se tornou escritor.

JOGADA 10 – No seu ponto de vista, teremos um Fla-Flu na final do Carioca?

ZÉ ROBERTO – “Todos os caminhos levam para um Fla-Flu na decisão, até pela superioridade técnica e o investimento que estes dois clubes fizeram. Mas o que mais me chamou a atenção no primeiro jogo da semifinal, entre Botafogo e Fluminense, foi a garra dos alvinegros. Mesmo com limitação técnica, conseguiram equilibrar o jogo. Fiquei feliz ao ver isso, porque em futebol, durante os 90 minutos, nem sempre Davi vence o Golias. Antes de ser Fluminense, torço pelo bom futebol. E em relação à partida da última segunda-feira, no fundo, achei injusto o placar.”

JOGADA 10 – Que resultado soaria mais real?

ZÉ ROBERTO – “De um lado, vimos qualidade. Do outro, superação. Um empate ficaria perfeito, visto que o Botafogo se superou e teve até boas chances. Mas futebol é cruel.”

JOGADA 10 – A partida de domingo tem favorito?

ZÉ ROBERTO – “O Maracanã favorece ainda mais ao Fluminense, pela proximidade do torcedor com o time. No Nilton Santos, aquela pista enorme distancia, esfria o calor humano que a torcida passa. Fica a impressão de que a qualquer hora o Usain Bolt vai passar correndo pela pista! Ver aquilo só me traz saudades da geral. Era muito bacana jogar com os torcedores quase no cangote.”

JOGADA 10 – Como você vê o Fluminense no cenário brasileiro atualmente?

ZÉ ROBERTO – “Apesar da eliminação precoce na Libertadores, o clube subiu um degrau esse ano. Antes, tinha um time. Hoje, tem elenco. As peças que têm dão ao treinador Abel condições para ele fazer variações táticas, como ele fez na última segunda-feira. Ele foi muito feliz nas substituições, por isso venceu. Hoje o Tricolor está visivelmente superior aos anos anteriores.”

JOGADA 10 – Fred ainda merece ser titular?

ZÉ ROBERTO – “Nós, brasileiros, somos carentes de ídolos. Tivemos Ayrton Senna, João do Pulo, Éder Jofre, em suma, grandes referências. Mas clube sem ídolo não atrai o torcedor. Eu gosto muito do Fred, vi toda a sua carreira, mas está na hora de ele fazer o seu jogo de despedida para sair por cima, deixando saudades. Quando o vejo mais pesado, quase sempre se lesionando à toa, sinto que é a hora de parar. Até para aproveitar a meninada de Xerém. Fred já não tem as mesmas condições físicas de antes e, assim, o torcedor vai aos poucos perdendo a empatia por ele. Ele precisa encerrar esse ano.”

JOGADA 10 – Cite um jogo marcante do seu tempo de Máquina Tricolor.

ZÉ ROBERTO – “Disputei alguns Fla-Flus e, sem dúvida, nesse clássico não há favorito. Em 1975, valendo praticamente uma vaga na semifinal do Brasileiro, a Máquina Tricolor, mesmo desfalcada do Caju, do Rivellino e do Manfrini, meteu 3 a 0 no Flamengo completinho, com Zico, Geraldo, Junior e Cia. Foram dois gols do lateral-esquerdo Marco Antônio. Inesquecível!”

JOGADA 10 – E algo inusitado, que só a Máquina teve?

ZÉ ROBERTO – “A Máquina Tricolor foi um negócio tão especial na vida da gente, que o presidente Francisco Horta nos levava para assistir a peças teatrais nos sábados que antecediam aos domingos de jogo. Chegamos a ver a Fernanda Montenegro em ação, no Teatro Casa Grande. Dessa forma, no domingo precisávamos retribuir em campo aquele carinho todo conosco. E ter jogado com Rivellino, PC Caju, Mário Sérgio, simplesmente não dá para esquecer.”

JOGADA 10 – É verdade que o Rivellino errou o elástico no Alcir Portela?

ZÉ ROBERTO – “Naquele Fluminense x Vasco, o Riva chegou no vestiário dizendo que foi sem querer. Falou que queria dar o drible pelo lado, mas acabou saindo a caneta. Só que ao ver a repercussão depois, chamou os holofotes para si declarando que foi de propósito…”

JOGADA 10 – Depois de parar com a bola, você se dedicou aos livros. Quantos já escreveu?

ZÉ ROBERTO – “Tenho oito livros publicados, alguns na terceira edição. Escrevi não só sobre a minha carreira, como ‘causos’ da bola que vivi. Tenho também crônicas, feitas durante essa pandemia. Noutro livro, conto minha experiência frustrada como técnico. Há um em que verso sobre a minha militância como cidadão de esquerda. Enfim, agradeço muito a Deus por esses dois dons que Ele me deu: jogar bola e escrever.”

Troca Troca e livros

Zé Roberto virou escritor de sucesso após deixar os gramados – Divulgação

Zé Roberto jogou profissionalmente entres 1971 e 1985 e seus melhores momentos foram no Fluminense (1971/75) e Flamengo (1976). Ele fez parte do famoso troca-troca entre Fla e Flu, quando cada time cedeu três jogadores ao rival. A troca de Zé Roberto foi pelo atacante Doval. Sobre este assunto, Zé não curte muito lembrar, pois ele se considerou uma mercadoria. Como escritor, ele tem um prêmio: o João Saldanha de Jornalismo Esportivo de 2010, com “Crônicas de Um (Ex)Jogador”.

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Carlos Alberto

Repórter, setorista da Seleção Brasileira, colunista e editor do Jornal dos Sports entre 1998 e 2000. Editor, colunista e editor executivo do LANCE! de 2000 a 2020, Editor-chefe do Jogada 10 desde 2020. É formado pela Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha-RJ) e participou de coberturas de 6 Copas do Mundo (4 como enviado, 1 como chefe de reportagem 1 como editor-chefe), 2 Copas Américas, 1 Eurocopa, 2 Mundias de Clubes, 1 Olimpíada e 6 Champions League.

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