Tupãzinho vence Zetti no lance que entrou para eternidade – Daniel Augusto Jr./Agência Corinthians

Naquele dia 16 de dezembro de 1990, Tupãzinho entrou em campo em pleno Morumbi lotado sem imaginar o que aconteceria. A princípio, olhou para o céu. São Pedro parecia tranquilo. Mas havia algo mais, um espírito de trovão em um dia sem chuva queria ecoar. Era a final do Brasileirão entre dois rivais: Corinthians e São Paulo.

São 30 anos daquele momento histórico completados nesta quarta-feira. O primeiro de sete títulos brasileiros. O Corinthians estava longe de ser favorito e terminou a primeira fase da competição em sétimo lugar. Nas quartas de final, encarou o Atlético-MG, a segunda melhor campanha. Venceu com dois gols de Neto e segurou empate no segundo jogo. Em seguida, com o Bahia, a mesma coisa.

A final era contra um São Paulo com craques como Leonardo e Raí sob a batuta do ótimo Telê Santana. No primeiro jogo, gol de Wilson Mano após cruzamento. O sonho parecia próximo. Faltava um.

Tupãzinho
Tupãzinho em ação pelo time Master do Corinthians – José Manoel Idalgo – Agência Corinthians

A tabelinha

Enfim, era chegada a hora do último jogo do Campeonato Brasileiro de 1990. Primeiro quarto do tempo derradeiro. Neto mata uma bola um pouco antes da linha do meio de campo com elegância. Com muita tranquilidade dá a bola nos pés de Tupãzinho, que carrega e passa para Fabinho largar um drible e jogar de volta para o camisa 9 corintiano entrando na grande área. Uma tabela carinhosa – e fatal. Tupãzinho, então, dá um drible de cinema no zagueiro são-paulino e retorna na medida para Fabinho, que chuta mal. A bola espirra e, na raça, como um raio, num carrinho, Tupãzinho empurra a bola para o fundo das redes. Uma Jogada10! É gol do Timão! Gol do título!

“Emoção grande de fazer aquele gol. Título inédito. Primeira conquista, né? Isso marcou muito na minha carreira, no clube também, junto com os torcedores. Todo mundo lembra. Faz 30 anos agora e está todo mundo comentando desse gol, do primeiro título (brasileiro)”, disse o ex-jogador ao Jogada10.

Ainda perguntamos se ele tinha algum sonho de que faria um gol assim tão importante naquele dia, porém, com uma voz humilde e tranquila, quase rindo, disse que não.

“Eu num sonhava em fazer o gol. Num sonhei em fazer o gol do título, né? Eu só queria jogar bem”, declara Tupãzinho

O “Talismã da Fiel”. Assim era chamado Pedro Francisco Garcia, o Tupãzinho, pela torcida. Entrava no segundo tempo e fazia gols importantes. Foram 340 partidas com a camisa corintiana e 52 gols. Mas como será que ele se sentiu naquele momento da final?

“Uma emoção indescritível. Nos eventos todo mundo comenta o gol. ‘Ah, Tupãzinho, aquele golaço’. Não foi um golaço né? Mas foi um gol de raça, um gol de oportunismo. Eu e Fabinho conseguimos fazer uma tabela, uma jogada legal. Foi uma emoção que não dá nem para descrever. Boa demais”, fala sorrindo o “Talismã da Fiel”, que segue carreira como técnico.

“Hoje estou como treinador no Tupã, fiquei trabalhando vários anos na divisão sub-23. Tive o privilégio de subir o Tupã em 2013 para a série A3, numa campanha excelente. A torcida abraçou, a cidade, todo mundo ajudou. Conseguimos um título inédito para o Tupã”, declarou Pedro.

Grande Espírito

O ex-jogador nunca será esquecido por aproveitar a predestinação para se consagrar com raça na história corintiana.

“Meu primeiro brasileiro, não é? E logo chegar em uma final. Eu voltava mais para marcar, deixava mais o Neto, o Fabinho, o Mauro, à frente. Fiz poucos gols no campeonato e a bola acabou sobrando para mim, e acabei fazendo o gol do título que ficou inesquecível para todos nós.”, completou.

Segundo a cosmogonia indígena brasileira, o deus Tupã, Espírito do Trovão, criou tudo sobre o planeta Terra com a ajuda da deusa da Lua, Jaci. Muito tempo depois, um pequeno trovão rasgaria o gramado verdejante do Morumbi causando uma chuva de alegria, Tupãzinho.

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