“Há coisas que só acontecem com o Botafogo”. A folclórica máxima, repetida aos borbotões, sugere a dimensão da falta de sorte desta agremiação. É a bola que bate na trave no último minuto, o frango do goleiro quando a vitória parece certa, o gol sofrido nos acréscimos, o passe equivocado, a mancada do zagueiro, o pênalti claro não marcado, o treinador que chega ao clube com cirurgia marcada e outras inúmeras intempéries corriqueiras. A interpretação, no entanto, esconde algo mais sério. Durante anos, dirigentes, técnicos e jogadores aproveitaram a sentença para disfarçar as suas mais diversas incompetências. Como consequência, a falta de um título relevante nas últimas duas décadas e meia, dois rebaixamentos e uma iminente queda para a Série B do Campeonato Brasileiro. A frase, que não chega a ser uma falácia, é o refúgio dos covardes que destruíram o Alvinegro.

O Botafogo é uma instituição à deriva, com uma vida, no mínimo, confusa. O amadorismo predomina dos corredores de General Severiano até as tribunas do Estádio Nilton Santos. Qualquer investida do Ministério Público pode resultar em indícios de gestão temerária. Não é à toa que o Alvinegro não consegue se organizar para pagar as contas e já perdeu o “bonde” na questão da separação entre o clube social e o futebol. O excesso de contratações infrutíferas e as trocas constantes de treinadores apontam para uma falta de norte nos últimos mandatos. Sem protagonismo nacional e habilidade de negociação, o Glorioso não consegue exercer influência nos bastidores e acaba sempre prejudicado nos lances mais controversos. Por fim, a cartolagem quando não peca por omissão, erra ao expor as fragilidades do plantel e os problemas internos.

O tempo segue fechado em General Severiano. A previsão é de tempestades infinitas – Vitor Silva/Botafogo

O cenário de crise é desalentador. Displicente e apático nas quatro linhas, o Botafogo acumula sete derrotas consecutivas (um recorde negativo) e soma apenas três vitórias em 25 partidas disputadas no Brasileirão. As chances de descenso ultrapassam os 80%. Na Segundona, o Alvinegro será obrigado a trabalhar com uma receita inferior, somada à incerteza da pandemia que já retirou dos clubes nacionais a arrecadação com a bilheteria. Alguém acreditará que, sem nenhuma ruptura política significativa, os mesmos dirigentes que condenaram o clube serão capazes de se reinventar com menos recursos?

Ao que parece, findada a temporada, em fevereiro, o Botafogo só ficará com os dois únicos patrimônios intocáveis: a história e a torcida.

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