Datas, gramados impraticáveis e o excesso de jogos marcam as mesmas falas e queixas de algumas décadas no que se refere aos estaduais pelo Brasil.
Abrindo o prisma e permitindo um olhar menos egocêntrico, sabemos que mais de 97% dos atletas profissionais não são privilegiados em jogar grandes torneios e terem os altos salários que sempre são replicados como regra. Na verdade, a elite do futebol contempla um grupo seleto de vencedores da “loteria da vida”, já que, estes chegaram a patamares inalcançáveis para a maioria dos seus colegas de profissão. Jogar uma Série A de Brasileirão é sorte grande.
No entanto, há uma luta árdua para que os profissionais e torcedores do interior do Brasil vejam seus craques e participem do espetáculo. Os simbolismos mudaram. Hoje, o torcedor não dá muita relevância aos estaduais, exatamente pela qualidade do que se vê ou presencia em todos os aspectos.

Atlético enfrenta o Tombense em Muriaé. Gramado muito ruim – Pedro Souza / Atlético

Em dois pontos inesgotáveis do assunto, podemos ponderar duas recentes partidas do Galo pelo interior de Minas. Para quem não sabe, o estado da Inconfidência Mineira tem 853 municípios, é um “país” maior que a França. Mas voltando aos jogos, um deles foi em Muriaé às 11h, sudeste do estado, na Zona da Mata, contra o Tombense. Apesar do Atlético ter vencido com gols de Hulk e o primeiro de Paulinho, o que se destacou na peleja foi o estado do gramado e a péssima qualidade do jogo em função do piso e do horário da partida. Num dos lances, o lateral-esquerdo Dodô se chocou com o adversário e caiu num buraco do gramado, registrando a cena deplorável do dia.

Os problemas em Ipatinga

Mas podia piorar. Uma semana depois, no sábado passado (4), em Ipatinga, quase que uma tragédia marcaria o Campeonato Mineiro. Por muita perspicácia dos próprios torcedores e por ação divina, que protege as crianças, uma catástrofe não aconteceu no estádio Ipatingão.

Apesar do jogo noturno, havia muito calor. Entretanto, de maneira equivocada alguns comentaristas acharam que foi o excesso de temperatura o causador de vários torcedores passando mal nas arquibancadas. Não era. Foi desordem, baderna e falta de sensibilidade dos atores envolvidos no evento. Dividiram em meio a meio o público mesmo sabendo que a torcida do Galo estava absurdamente em maior quantidade. Além disso, estrangularam o acesso da torcida às arquibancadas, obstruindo passagem de um “mar” de gente alvinegra dentro de um túnel fechado e sem ventilação.

Mas não acabou aí! Inúmeras crianças e idosos queriam ver o jogo, mas não podiam. Eles estavam errados de ir, de acreditarem em organização. Quem os levou que eram os “negligentes”, na verdade a culpa era do calor e de quem os levou – É ironia, tá! -. Ultimamente, precisamos explicar piada, ironia, só não explicamos gente que entra sem ingresso, banheiros deploráveis e revistas que não são eficazes nos “estádios”. Quase me esqueci, o Galo ganhou por 1×0 do Tigre, mas em função dos ocorridos, até o jogo ficou esquecido no meio de tanta bagunça.

Calor alto?

O futebol brasileiro quer imitar as músicas europeias, a entrada clichê e sem graça no gramado, mas não fornece água, picolé e condições de respeito ao caloroso torcedor apaixonado de um país tropical. Na verdade, de tão carente, o torcedor do interior aceita migalhas, coronéis e chega a acreditar que é miragem ou culpa do calor o que, de fato, muita gente recebeu para fazer com excelência e não fez.

Ser “raiz” é respeitar tradições, mas não tem nada a ver com banheiro imundo, logística retrógrada e tratamento de matadouro às pessoas. Não vai ser entrar em campo, pegar bola com jingles patéticos “imitantes” e irritantes que farão os estaduais serem respeitados. Valor vem através do exemplo.

“O problema foi o calor alto”.
Culpar fenômenos naturais é inconcebível e risível. Para quem faz fundação no mar ou leva Internet aos confins do mundo, ler estas “abobrinhas” só nos torna mais ácidos e menos poéticos. Querem imitar? Imitem organização! E parem de dar desculpas antes que alguém morra por negligência!

Alô, federações! Passou da hora de tratar as pessoas que gostam do futebol como sócios fiéis do “negócio”.

Galo, som, sol e sal é fundamental!

Observação: já estivemos em várias ocasiões no Ipatingão e o estádio tem capacidade e condições de operar bem. O problema que quase gerou uma tragédia no último fim de semana se deveu à organização do evento. O Vale do Aço é riquíssimo e com pessoas da melhor qualidade, o que faltou foi sensibilidade e excelência na gestão do último evento. Negligência dos envolvidos!

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