A primeira vez do Cuiabá na Série A vem sendo marcada por uma boa campanha na Arena Pantanal. Porém, quando se trata de desafiar os favoritos, é fora de casa que a equipe mato-grossense se agiganta e dá provas de que chegou para ficar. Primeiro, venceu o Palmeiras (2 a 0) no Allianz Parque. No último domingo, empate sem gols com o Flamengo, no Maracanã. Na próxima rodada, o Dourado completa a trinca como visitante diante do líder Atlético.
O bom desempenho no Campeonato Brasileiro revela o grande trabalho feito por Jorge de Amorim Campos, conhecido mundialmente como Jorginho. Em entrevista ao Jogada10, o tetracampeão mundial pela Seleção Brasileira fala dos objetivos do surpreendente Cuiabá, revela de que modo anulou a equipe de Renato Gaúcho, seu amigo dos tempos de Gávea e o que esperar de seu time diante do líder Atlético.
J10: Você assumiu o Cuiabá na zona de rebaixamento e sem uma vitória sequer nas sete rodadas iniciais do Brasileiro. O que foi preciso mudar no time para a sua estreia (1 a 1) contra o então líder Red Bull Bragantino?
Jorginho: Fazer com que os jogadores tivessem sangue nos olhos, acreditassem. Não se chega a uma vitória sem intensidade, sem estar ligado o tempo todo. Tinha que ter entrega, paixão pelo que se faz, além da organização tática. Quis esse tipo de mentalidade vencedora por toda a experiência que passei na minha vida como jogador por 20 anos e treinador em 15 anos.
J10: Sob o seu comando no BR-2021, o Dourado soma sete vitórias, dez empates e apenas três derrotas. Seu time bateu o Palmeiras no Allianz e segurou um empate sem gols com o badalado Flamengo, em pleno Maracanã. Qual o segredo para encarar esses grandes clubes fora de casa?
Jorginho: Cada partida tem a sua realidade. No Allianz, jogamos de forma inteligente. Mas não mantivemos a posse de bola no campo do adversário, que é uma característica forte do time, pela qualidade de nossos atletas. Contra o Flamengo, montei estratégia específica até por conta do potencial deles. Sei que estão em um outro patamar em relação ao nosso, então não deixamos eles usarem a velocidade, que é o que têm de melhor, principalmente na transição ofensiva e contra-ataques. Jogamos com linhas bem próximas, sem nos expor e não permitindo que eles fizessem aquelas entradas por dentro, com tabelas, quebrando as linhas. Obrigamos eles a jogarem por fora, já que estavam só com o Gabigol. Nossa estratégia era apostar em uma única bola, já que não adianta jogar de peito aberto com o Flamengo para não ser goleado.
J10: Renato e você foram companheiros de Flamengo e campeões brasileiros em 1987. Como foi o reencontro com ele no Maracanã? Vocês trocaram palavras antes do jogo.
Jorginho: Enfrentar o Renato é sempre uma honra. Foi um super jogador. Creio que ele também deve ter tido a alegria de trabalhar comigo. Ele vem fazendo um excelente trabalho, já fazia no Grêmio onde foi multicampeão. Estou certo de que terá muito sucesso no Flamengo. Mas falei para ele no domingo: ‘Hoje, não. Hoje você vai enfrentar o Jorginho que jogava contigo na lateral, que marcava demais, era forte e organizado. Nada de moleza’. Ele mesmo falou que ia enfrentar uma carne de pescoço. Nossa equipe foi muito disciplinada, e eles tiveram poucas oportunidades.
J10: Na próxima rodada, vocês encaram mais uma pedreira: o líder Atlético fora de casa. O Cuiabá vai jogar para se defender?
Jorginho: Conquistar um ponto frente ao Flamengo foi importantíssimo, e assim será se conseguirmos diante do Atlético. Estamos analisando o time deles para montar uma estratégia específica a exemplo do confronto no Maracanã. Naturalmente não posso dar detalhes de como jogaremos, mas vamos pegar um time qualificado demais, com um jogo individual fortíssimo. O Cuca é um treinador inteligente, com diversas estratégias muito bem ensaiadas. Mas vamos em busca de um a três pontos. Temos toda uma organização para surpreender assim como foi com o Flamengo.
J10: A ótima campanha do Cuiabá fez o clube mudar seu objetivo ao longo do Brasileiro?
Jorginho: Queremos alcançar a permanência na Série A. Depois que atingirmos 44, 45 pontos aí, sim, pensaremos na Sul-Americana. Seria algo extraordinário para um clube que tem apenas 20 anos, fundado pelo saudoso Gaúcho. Gostaria muito que ele estivesse aqui conosco para ver isso. Como estreantes na elite esse ano, se conseguirmos esse feito será maravilhoso. Tive a oportunidade de fazer um trabalho parecido com esse no Figueirense em 2011, quando ficamos em sétimo lugar. Nas últimas cinco rodadas poderíamos até ser campeões. E agora no Cuiabá vamos passo a passo. Esses são os nossos objetivos daqui para frente. Espero atingir essa pontuação o mais rápido possível para brigarmos por coisas maiores, já que estamos em nono lugar e se permanecermos na primeira parte da tabela com certeza iremos alcançar dois objetivos nesse ano”.
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