Pouquíssimos jogadores de linha, na história recente do futebol brasileiro, podem dizer que defenderam uma mesma equipe em sete temporadas diferentes. Nenê é um deles. Após acertar a saída do Vasco, na segunda-feira, o meia de 41 anos quer jogar por mais seis meses, mas é certo que não terá, com qualquer outra camisa, a mesma identificação que estabeleceu com o clube cruz-maltino.

No entanto, ao longo deste período, a relação entre as partes não foi só de alegrias e juras de amor. Pelo contrário, Nenê encarou decepções, rusgas com treinador e até com a torcida, desde 2015, quando foi apresentado como jogador em São Januário pela primeira vez. Por outro lado, sempre foi decisivo com gols e assistências e ganhou definitivamente o status de ídolo em sua última passagem.

A saga de Nenê como jogador do Vasco terminou nesta segunda-feira – Daniel Ramalho / Vasco

Assim, o Jogada10 preparou uma linha do tempo para detalhar a história, digna de cinema, do camisa 10 no clube cruz-maltino.

Nenê: de liderança técnica ao pedido para sair

2015: em agosto, o Vasco era o lanterna do Brasileirão, com sobras, quando contratou Nenê, que jogava no Qatar. Na ocasião, venceu o duelo no mercado com o Santos. As boas atuações do meia foram essenciais para a arrancada, com direito a nove jogos sem derrota. Porém, não foi suficiente. Afinal, o Cruz-Maltino patinou na reta final e acabou rebaixado, por dois pontos, na última rodada.

“Fica até difícil falar alguma coisa, estamos todos muito tristes. Nós, jogadores, nossa família e os torcedores. Fizemos de tudo para tentar recuperar, mas infelizmente não deu, é o futebol. Dei meu tudo, meus companheiros e a torcida também. Agora vamos voltar o mais rápido possível, precisa ser ano que vem”, lamentou o camisa 10.

Protagonismo

2016: em 11 de janeiro, Nenê virou a página, assinou a ampliação de seu contrato até dezembro de 2018 e foi o protagonista do bicampeonato carioca do Vasco. Aliás, que foi conquistado de forma invicta. Na sequência, liderou a equipe dentro de campo e no vestiário durante a Série B. O acesso, no fim das contas, foi bem mais complicado do que o esperado, mas o meia cumpriu a promessa de retorno à elite.

“Não queríamos que fosse dessa maneira sofrida, até porque tínhamos uma diferença muito grande no início do segundo, mas futebol é assim. Acontecem coisas que a gente não espera, os resultados começam a não vir por uma série de fatores. Mas o importante era marcar o nosso nome na Série A do ano que vem e botar o Vasco no lugar devido. Cumprimos nossa missão”, disse Nenê, ao ‘ge’, em dezembro.

Apresentação de Nenê e início da história com o Vasco, em agosto de 2015 – Foto: Paulo Fernandes/Vasco.com.br

2017: Nenê e companhia logo sentiram os efeitos da piora na crise financeira no Cruz-Maltino, ainda sob o comando de Eurico Miranda. Então, o técnico Milton Mendes decidiu deixá-lo no banco, pela primeira vez, em 20 de maio. Inclusive, o camisa 10 já havia sido vaiado pela torcida. A partir daí, Nenê começou a pedir para deixar o Vasco. Mas não foi atendido pela diretoria.

“Ele (Milton Mendes) tem a opção dele. Eu sou um cara que não gosto de ficar de fora, mas sempre respeitei. Conversei com ele numa boa. Ele tinha a opinião dele e eu a minha. Tanto que, na época em que fiquei no banco, foi uma coisa totalmente normal. Você sabe que eu não gosto de ficar de fora. Mas ele é o comandante e eu tinha que respeitar”, disse, meses depois, em entrevista ao canal “Pilhado”.

Desgaste

2018: o Vasco vinha de uma classificação para a Pré-Libertadores, mas a relação de Nenê com o clube estava muito desgastada. O atraso de salários e benefícios trabalhistas gerou uma divida superior a R$ 1.5 milhão. E afinal, de tanto insistir, o meia conseguiu a liberação de seu contrato em 24 de janeiro, após a partida contra a Cabofriense. Em seguida, assinou com o São Paulo. Em novembro, aliás, foi muito hostilizado em São Januário ao enfrentar o Vasco pelo Tricolor Paulista.

“Queremos jogadores comprometidos com a camisa e com o clube. Por isso mesmo que quando Nenê manifestou seu desejo de sair, nós tentamos ajudar. Tivemos uma conversa, ele alegou que tinha problemas familiares. O São Paulo assumiu alguns compromissos que o Vasco tinha. Chegamos a um final de negociação que foi bom para todos”, explicou à ESPN, na época, o diretor de futebol do Vasco, Paulo Pelaipe.

Na primeira passagem, Nenê participou de 132 jogos e marcou 44 gols.

2021: o inesperado retorno aconteceu três anos e meio depois, em 14 de setembro. Nenê estava no Fluminense e, aos 40 anos, mostrou que ainda tinha lenha para queimar. Afinal, foi o principal destaque do time cruz-maltino no segundo turno de recuperação em mais uma Série B. No entanto, sob o comando de Fernando Diniz, o acesso escapou. E então Nenê mostrou, de uma vez por todas, o quanto de carinho tinha pelo Vasco.

Nenê liderou o Vasco no acesso à Série A em 2022 – (Site Oficial do Vasco)

“Temos de ter vergonha na cara mesmo. Estou assim (chorando) porque é a segunda vez que vim ajudar e sinto que falhei. Dei tudo de mim e vou continuar dando tudo até o último segundo. Vou ficar até o Vasco subir”, declarou o meia, em prantos, em um dos momentos mais comoventes de 2021 no futebol.

Status de ídolo de Nenê é eternizado

2022: referência de um time novamente renovado, Nenê seguiu como titular durante a temporada. E cumpriu a promessa do acesso, assim como no já distante ano de 2016. Com isso, não restava mais nenhuma dúvida: enfim, tornara-se um ídolo eterno do Vasco.

“Você não entende a paixão. É como cantam a música “nunca vão entender esse amor”. O amor que a torcida tem pelo clube, tantos anos sofrendo, eles fazendo o que estão fazendo todo esse tempo na Série B. E enche o estádio, canta e não tem como não te contagiar. Arrepia mesmo você estar em São Januário, no Maracanã, e eles cantando o tempo inteiro. Você se sente parte daquilo. Não tem como não cantar junto”, disse Nenê, ao “Lance”.

2023: clube e jogador chegaram a um acordo para a renovação de contrato por quatro meses. Com a SAF no comando do futebol, o elenco ganhou reforços de qualidade. Com isso, Nenê, aos 41, passou a ser opção no banco. Mesmo assim, marcou dois gols e deu duas assistências. Além disso, completou 200 jogos com a camisa cruz-maltina na vitória sobre o Flamengo (em 5 de março).

Será um até logo

O Vasco decidiu, no entanto, encerrar a segunda passagem – e a história – de Nenê no campo pelo clube. Mas tudo indica que será só um até logo. Afinal, em 2024 está combinado que ele volta como dirigente.

“Estou muito em paz, o nosso clube está sendo reestruturado, no caminho certo, que envolve grandes coisas, com uma base incrível e um elenco que realmente pode ajudar muito. Que eles possam continuar essa trabalho e fazer com que o Vasco volte a ser o centro das atenções do país, como sempre foi”, afirmou Nenê, em vídeo gravado após a confirmação da saída do Vasco, nesta segunda-feira (10/04).

Alguns números de Nenê no Vasco:

– 204 jogos
– 63 gols (2º maior artilheiro no século)
– 51 assistências
– 49 meses sob contrato
– 1 título carioca (2016)
– 2 acessos à Série A (2016 e 2022)
– 1 classificação à Pré-Libertadores (2017)

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