Dois pesos, duas medidas, apagão e constrangimento

Se fosse algum dirigente da Confederação Brasileira de Futebol, enxergaria a possibilidade concreta de o Botafogo sagrar-se campeão brasileiro com bons olhos. Afinal, nada melhor para valorizar o meu produto do que mais um time competitivo, o ressurgimento de um gigante que ajudou a colocar três das cinco estrelas que ostento na camisa e o resgate de uma história que só fortalece o futebol do meu país. Por isso, custa-me acreditar em teorias de conspiração. No entanto, com a CBF, uma instituição bem problemática, há o famoso “dois pesos e duas medidas”. Na realidade, tudo, na vida, tem um componente político. E, claro, um bom cafezinho.

Para receber o Bragantino, neste fim de semana, o Flamengo não queria arredar o pé do Maracanã, palco exigido pela Conmebol, duas semanas antes da final da Libertadores, entre Fluminense e Boca Juniors, no dia 4 de novembro. A CBF escutou os cariocas, foi ao Paraguai para defender o interesse de seu afilhado, conversou com a entidade máxima do futebol sul-americano e adiou o encontro das equipes para que o Rubro-Negro encare o Massa Bruta no Estádio Mário Filho, em uma outra data. O bom senso prevaleceu?

E o Botafogo, CBF?

A mesma boa vontade, entretanto, não aconteceu com o Botafogo. Diretor de competições da CBF, Júlio Avellar tomou, de supetão, uma decisão ao ser perguntado, ao vivo, no SporTV, sobre a partida do líder do campeonato contra o Fortaleza: “Está adiado”, decretou, sem nenhum ofício da confederação, debate ou consulta às partes envolvidas. Sua resposta ocorreu pouco depois de confirmar que o Alvinegro jogaria os 39 minutos restantes contra o Athletico-PR, a portões fechados, por conta da falta de energia no Estádio Nilton Santos.

De acordo com o artigo 26 do regulamento do Campeonato Brasileiro, em casos deste tipo, respeitar o intervalo mínimo de 66 horas não é necessário. O Botafogo obteve o respaldo do Sindicato dos Atletas, entregou todos os laudos médicos e municiou-se de provas para visitar o Fortaleza, finalista da Sul-Americana, nesta terça-feira (24), no Castelão. O Glorioso poderia, sim, perder para os reservas do Leão, time que demonstrou muita qualidade, por exemplo, contra o Grêmio. Mas a questão era cumprir o regulamento, por isso, o Mais Tradicional recorreu às instâncias superiores, sem sucesso.

E ainda tem mais um agravante: e os torcedores do Botafogo que compraram passagens e reservaram hospedagens em Fortaleza? E aqueles que perderam um tempo no Colosso do Subúrbio? A CBF vai indenizá-los? É mais fácil nevar no sertão.

Sem passar pano

O Botafogo, como responsável pela manutenção do estádio, ainda não esclareceu o motivo da queda de energia e deu brecha para a CBF mudar a tabela do Brasileirão a bel-prazer. O clube responde pelo Colosso do Subúrbio. Assim, tem a obrigação de solucionar o caso e, conforme for, exigir punições na esfera criminal para os responsáveis. Porém, o tempo passa, e nada de uma posição oficial. Duvido, aliás, que o mesmo imprevisto aconteça nos shows que estão marcados para o Nilton Santos.

Houve, no último fim de semana, um clima de oba-oba injustificável no Engenho de Dentro. O Botafogo enfrentaria uma grande equipe e deveria prover mais atenção ao futebol, não ao circo pirotécnico. Mas e o patrocinador? Que faça uma ação mais discreta e respeite os rituais sagrados do esporte bretão.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Jogada10

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