Tiquinho em uma imagem que lembra ʽO Gritoʼ, de Edvard Munch
Tiquinho em uma imagem que lembra ʽO Gritoʼ, de Edvard Munch - Foto: Vitor Silva/Botafogo

Seja como farsa ou tragédia, a história, em algum momento, está pronta para se repetir com o Botafogo. O clube que mais flerta com o Inferno de Dante em todo o planeta volta a conviver com reminiscências embaraçosas. “Deixai toda a esperança, vós que entrais” anuncia a “Divina Comédia”. O insignificante Vizeu, reserva de um time que briga para não cair, reabriu o portal, avaliam os rivais. A imprensa do 7 a 1 também já está ouriçada. Claro, todos estão em sua posição de tripudiar após a arregada do Mais Tradicional na noite de sexta-feira (18), pela rodada 30 desta edição do Campeonato Brasileiro. Aos alvinegros, sobra apenas a revolta diante da forma pela qual a equipe anfitriã entregou o empate com o limitadíssimo Criciúma por 1 a 1, diante de 65 mil corações aflitos, aos pés dos Alpes Tijucanos, no Maracanã.

O keeper desconhecido virar o Gordon Banks contra o Botafogo, a oportunidade desperdiçada de forma inacreditável na pequena área e o gol (corretamente) anulado pelo VAR são partes do espetáculo grotesco. Inaceitável é Luiz Henrique, astro da Seleção Brasileira, perder a bola no meio de campo por tentar um drible desnecessário. Ainda mais inqualificável, no entanto, é a disposição tática da equipe alvinegra após o 1 a 0, conquistado a sangue, suor e lágrima, nos acréscimos, por um renascido Tiquinho. Jogadores totalmente dispersos e fora de posição. Praticamente convidando o adversário a igualar o score. Este tipo de conduta esportiva é execrável. A turma do professor Artur Jorge humilhou a torcida.

Roteirista peca pela falta de criatividade

O Criciúma de 2024 é o novo Coritiba do segundo turno de 2023, quando o Botafogo abre o placar na bacia das almas, curiosamente com o mesmo Tiquinho, volta para a briga pelo título brasileiro, mas se despede logo em seguida, sofrendo um gol ridículo, no Couto Pereira. Aliás, um time que almeja tricampeonato não pode, sob qualquer hipótese, somar um em seis pontos disputados contra os catarinenses. Desse modo, a vitória, no Mário Filho, era inegociável.

O roteirista do drama alvinegro peca pela falta de criatividade ao incluir a crueldade nas duas tramas. Levar gols no fim das partidas é a sina de um Botafogo cabaço. Em 2024, contra São Paulo e Palmeiras, em duelos decisivos pela Libertadores, o time sofreu do mesmo mal. Contra o Tricolor, a equipe sobreviveu pela eficiência nos pênaltis. Diante do Verdão, por aquilo que havia produzido antes. Mas uma hora a conta chega.

A comissão técnica bracarense se incomoda com o assunto. O sócio majoritário ironiza perguntas a respeito do tema. O influenciador otimista cita trecho de uma canção de Belchior. Contudo, decretar o fim de 2023, com a atual temporada ainda em andamento, é um grande equívoco. Os fantasmas ainda estão na sala. Sempre à espreita. Antes de tudo, aquele período desgraçado só chegará ao fim quando a Estrela Solitária levantar uma taça. Que seja, então, em 2024. A coluna não vai se aprofundar mais. Só quem é botafoguense entende este contexto.

Para aumentar o infortúnio, o Botafogo perde o Estádio Nilton Santos para recitais na reta final. Os próprios jogadores reconhecem a desvantagem de trocar o tapetinho do Colosso do Subúrbio pelo campo de bezerro da Grande Tijuca. É impressionante. Há clubes que não aprendem nem da pior forma!

Alento para o Botafogo

Em contrapartida, o Botafogo, durante o declínio, em 2023, tinha uma direção de futebol frouxa, que deixou o elenco tomar o departamento de assalto para colocar um dublê de treinador no cargo. Com Artur Jorge, apesar de algumas teimosias, o Glorioso está melhor servido. Neste sentido, não há comparação entre os dois anos.

*Esta coluna não reflete, necessariamente, a opinião do Jogada10

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