A conquista do Brasileiro pelo Atlético é absolutamente incontestável. O clube investiu corretamente e o time fez uma campanha espetacular. Como se não bastasse, o Alvinegro de BH soube montar estratégia suficiente para aproveitar os equívocos dos principais adversários, Flamengo e Palmeiras, que ficaram pelo caminho há pelo menos dois meses. A vitória de 3 a 2 sobre o Bahia, com uma virada que começou quando restava meia de jogo, é a maior prova da força e da obsessão do campeão.

Vocês podem até não acreditar, mas eu estava no Maracanã, faz meio século, quando o Atlético derrotou o Botafogo por 1 a 0, gol de Dario, e ganhou o título pela primeira vez. Naqueles tempos esse que vos escreve dormia e acordava com a bola. E o estádio era, vez por outra, a minha primeira casa. Comparecia às quartas-feiras de chuva para ver América x Guarani, ou algo próximo, não importava a partida.

Aquele domingo de dezembro foi de muito sol. E lembro com perfeição dos ônibus de Minas estacionados na orla da Zona Sul. A diversão era observar as placas: Betim, Congonhas, Conselheiro Lafaiete, Contagem, Divinópolis, Lagoa da Prata, Ribeirão das Neves, Santa Luzia e por aí vai. Um amigo anotou mais de 30 municípios.

Também era curioso, para um garoto criado solto em Ipanema, como eu, observar a relação do pessoal de fora com a areia e o mar, e da visão dos, digamos, turistas de ocasião, em relação às meninas de biquíni – comportados de então – e a ideia que cada um deles tinha daquele oceano imenso, arrebentando ali, a poucos passos. Muitos jamais haviam visto a praia.

Na realidade, isso ainda existe, mas as redes de TV, que principiavam, e notadamente a internet, diminuíram as distâncias. Pois é. Não é aconselhável comparar épocas distintas, pois o futebol, como a própria vida, muda bastante. Mas não seria um exagero afirmar que o time atual é bem superior ao de 50 anos atrás, por todos os valores que acumula, e pelo poder de encarar os adversários com a quase certeza da vitória. Como, aliás, ocorreu.

Confesso que nunca fui muito fã de Telê Santana, o técnico daquele Atlético de 1971. Mas reconheço o seu valor naquela conquista. Montou um time equilibrado entre os três setores, como ensinou mestre Sepp Herberger, tinha o melhor goleiro da praia do meu tempo de menino, o carioca Renato, e abusava de muita paciência para aproveitar, nos momentos corretos, as deficiências alheias, exatamente como faria, pouco depois, Emerson Fittipaldi nos circuitos de todo o mundo.

Sim, o futebol mudou muito. Dentro e fora do campo. Lançou outras estratégias, criou novas regras, incorporou a tecnologia, e muitos interesses econômicos e políticos. Assim, além do bom futebol que joga, não faz dois anos que o Atlético soube perceber que não sobreviveria sem administrações corretas – o oposto total de seu grande rival – e sem os investimentos necessários para integrar a nata dos clubes brasileiros. E tratou de arregaçar as mangas para fazê-lo.

Como dito, a conquista do Brasileiro pelo Atlético é absolutamente incontestável. E é impossível esquecer as lembranças de um tempo que tive a sorte de viver. Mas foi possível notar, na festa do Alvinegro, que vai continuar até a virada do ano, e que ainda pode ser bem maior, se ganhar a Copa do Brasil, um detalhe que passou quase despercebido. Não entregaram a festa de campeão brasileiro de Renato Gaúcho. Pelo menos Cuca, que não cometeu as muitas besteiras do colega, e que conhece o futebol em sua essência, ganhou a usa de maneira muito merecida. E tem todo o direito de exibi-la.

*As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do site Jogada10.

Siga o Jogada10 nas redes sociais: TwitterInstagram e Facebook.

Comentários