O dia 16 de junho de 2023 marcou um início de um novo tempo no turbulento Atlético: a era de Luiz Felipe Scolari no Galão da Massa. Se considerarmos o currículo do sexto treinador mais vitorioso do mundo, ficaríamos aqui dissertando por todo o dia. Contudo, a abordagem não é trazer somente o histórico do gaúcho, isso se pode fazer com o auxílio das ferramentas de busca da Internet.
Queremos ir além disso, precisamos falar do verbo “esperançar” que tanto vive no peito de um galista e basta uma faísca para um incêndio de estímulos acontecer.

Felipão - Atlético
Felipão já deu o primeiro recado para a Massa do Galo – Foto: Reprodução/Galo TV

O estilo de jogo de 2002 e 2023 de Felipão

Antes de iniciarmos sobre o estilo de jogo, uma observação sobre realidades do Brasil: com raríssimas exceções, não há coerência na busca de contratação de treinadores pelos clubes. É o que estiver disponível e aceitar a “loucura” da cultura do “perdeu três vezes, tchau”.
Portanto, nada de balelas e inverdades. Salvo exceções do possível lastro do Palmeiras de Abel Ferreira e do Fortaleza de Vojvoda, que só será comprovado depois que eles saírem, não há identidade de jogo, DNA, ou, pelo menos, a tal fita genética de um clube quase nunca é respeitada na busca por um técnico. Fatos! A busca é pelo que estiver disponível e aceitar vir.
Diante do exposto, relembrando um pouco do passado do multicampeão Felipão, falaremos primeiro do time campeão do mundo de 2002 na Copa Coreia/Japão.

Felipão e a Seleção de 2002

Naquele time espetacular, Scolari tinha um time que jogava com três zagueiros: Lúcio, Roque Júnior e Edmilson mais centralizado. A flexibilidade de Edmilson o fazia ora zagueiro, ora volante. Felipão tem algumas definições claras no seu jogo, ele ama o prático, ou seja, uma parte da equipe precisa defender bem e a outra, a criativa é mais móvel, para desordenar o adversário.
Ainda na seleção de 2002, Felipão tinha dois volantes que fechavam o tal “cinco defensivo” com Gilberto Silva e Kleberson, o último era mais fluido e se conectava mais com o tal “bloco” criativo.
A partir daí, o Brasil atuava com dois alas que tinham a capacidade de “profundidade”, indo até a linha de fundo quando necessário, as funções eram cumpridas por Cafu e Roberto Carlos. O “resto” era a trinca mágica com Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e Ronaldo. Enfim, havia uma ideia de um 5-5, na qual cinco defendiam de forma mais clara e cinco se moviam num jeito mais criativo e flexível.
Há quem diga que o Brasil atuava em um 3-4-3, ou uma variação 3-4-2-1, na qual apenas Ronaldo era mais avançado e descomprometido com a recomposição defensiva. Mas uma coisa não mudou de 2002 a 2023: Felipão adora o centroavante, principalmente para prender a defesa e fazer o pivô com quem chega, sempre buscando a superioridade numérica e poucos atos pra chegar ao gol. É praticidade e definição: quem sabe defender, defende; quem sabe atacar, ataca e confunde o adversário.

E o Galo de Felipão, como pode ser ?

Felipão chegou à final da Libertadores em 2022 contra o Flamengo e não à toa. Entendendo a cultura brasileira, Scolari não deve fazer a saída de três tão aprendida no Atlético desde Sampaoli, ele não vai “encerar o porcelanato” girando bolas lentas na defesa. Felipão deve fazer a Massa enlouquecer, num paralelo de 2002 com Gilberto Silva ou Fernandinho no Athletico-PR, o homem que pode ajudar Big Phill a entregar a bola para a parte criativa do time pode ser ele, Allan. Caso o meio-campista fique no Galo, será fundamental para dar agilidade ao ataque.
Seguindo a conexão ofensiva, Paulinho e Pavón devem ser fundamentais para fazer a bola chegar rapidamente ao gol adversário. Ou seja, Allan ou Battaglia serão vitais para de forma “vertical” avançar em triângulos pelas pontas e definirem ou servirem a Hulk.
Uma dúvida, talvez, será em estabelecer Hulk como o centroavante ou poderá o Atlético necessitar dessa “peça” com função de prender a defesa adversária. O comandante gosta de comprometer o adversário num espaço preso, fazendo o pivô (centroavante) para quem chega de trás como os atacantes espetados ou os meias. Podemos observar isso na utilização de Pablo no Athletico-PR.
Outro fator importante é que num paralelo, se atuar com alas, Felipão terá como ponto forte o lado esquerdo com Arana ou Rubens, mas pode ter que remodelar seu desejo se olhar para o lado direito, já que, Saravia ataca bem, mas defende com deficiência e Mariano defende bem, mas não avança tanto.

O que esperar

Grande campeão, Luiz Felipe Scolari disputou a Libertadores em oito oportunidades, chegando a seis semifinais e vencendo a competição por duas vezes, uma com o Grêmio em 1995 e outra com o Palmeiras em 1999. Foram quatro finais, a última em 2022 com o Furacão.
Felipão, repito, não vai inventar a roda, vai tratar o vestiário ao modo “família”, fará a gestão de pessoas como Coudet não soube, infelizmente, apesar da capacidade técnica que possui.
Big Phill não nasceu para perder. Claro, ficou também marcado no 7×1, mas é o último treinador campeão do mundo pelo Brasil e sua carreira de campeão da Copa do Brasil com o Criciúma é prova do seu tamanho.
O comandante vai buscar no seu conhecimento tático acelerar o jogo e isso já fará a Massa enlouquecer. Toques objetivos e time em busca do gol, para o Brasil, culturalmente, será uma mudança menos brusca. Inteligente que é, sabe que aqui não há tempo, não há tempo para desempenho, o que vale é resultado e time vibrante, algo que já prometeu para a torcida.
Na parte defensiva, para facilitar a adaptação, Scolari deve utilizar os encaixes de marcação (cada um pega o seu e vai até o fim) o que tornará o entendimento dos atletas mais prático e didático, pouca instrução e cumpra-se. Com a praticidade e clareza do que se pensa, o elenco terá uma tendência de comprar a ideia. Na transição, o contra-ataque pode ser uma das armas letais do novo Galo.

Conexão com  a Massa

Portanto, Felipão, em pouco tempo, pode deixar o time “voando” e não se assustem. A conexão dele com a Massa deve ocorrer por serem mais visíveis aos atores principais as ideias do seu jogo.
Para o momento de turbulência do clube, colocar um campeão do mundo no vestiário é uma tranquilidade para manutenção de hierarquias e simbiose do elenco. Não é mais um, é o Felipão. Não duvidem, pouco tempo poderá dar a Luiz Felipe um lugar inesquecível no coração da Massa.

Legado que Felipão pode deixar

A oportunidade que o Atlético pode ter com Felipão aqui é, talvez, de conectar o auxiliar fixo Lucas Gonçalves ao treinador. Talvez, o maior legado seja Lucas passar o clube para Scolari ajudando-o, mas também absorver o que o homem do bigode tem de experiência e conhecimento para, quem sabe, revelarmos um bom treinador dentro do CT.
Infelizmente, Felipão não é imortal e o Brasil tem dificuldades em revelar novos talentos no comando de grandes clubes, assim o grande jornalista Lelio Gustavo e eu finalizamos a noite com o verbo “esperançar” na boca da Massa.

Depoimentos

Depois de uma pesquisa do Portal FalaGalo, com mais de 3 mil votantes, de maneira surpreendente, Felipão obteve 80% de aprovação da amostra. Diante do otimismo, buscamos depoimentos de atleticanos para entender os motivos de tamanho otimismo.

Cristiano, advogado, o Vin Diesel do Galo

“Minha expectativa está muito grande. O Galo acertou muito na contratação do Felipão. Sempre sonhei com ele no Galo. Realização de um sonho antigo, especialmente para mim. Seja bem-vindo ao Galo, Felipão… A massa irá te abraçar. GALOOO!”

Pedro Vieira, administrador e analista financeiro e membro dos Embaixadores do Galo

“Minha maior expectativa é pacificar o ambiente, chegar valorizando o elenco que o antigo treinador quis desvalorizar. Segundo semestre é jogo atrás de jogo, então a tática fica em segundo plano, um vestiário bem controlado faz mais diferença e é isso que vai fazer o Galo brigar por coisa grande.”

Wander Almeida, administrador

“A expectativa é a melhor possível. Temos, a partir de agora, um mestre de vestiário. Um treinador que dispensa qualquer comentário e apresentação. E, o mais importante, uma escolha que demonstra muito ter sido feita pelos jogadores. Vamo Galo!!!”

Léo Pedrosa, atleticano e jornalista

“Após um pequeno momento de incerteza na escolha por Felipão, o sentimento foi de entusiasmo total com um treinador multicampeão que pode trazer ao Galo, com toda a experiência que ele tem, o que o time precisa nesse momento. A reconstrução de vestiário, união entre time e torcida e, sim, estruturação de uma equipe consistente defensivamente que pode dar uma certa tranquilidade de fazer os resultados ao invés das constantes buscas pela virada.
Pode não ter sido a primeira opção de muitos, mas acende a luz da esperança em nós torcedores.”

Alessandro Reis, empresário

“Dos nomes ventilados, achei a escolha muito boa. Não dava pra ser um técnico desconhecido/aposta, principalmente pelo perfil dos jogadores atuais, que necessitam de um técnico experiente. Se ele não atrapalhar, já ajuda. E temos hoje o atual técnico vice-campeão da América e que há alguns anos foi campeão do Brasileiro e também vitorioso na sua passagem na China. Seja bem-vindo, Felipão!”

Rafael Guedes, advogado

“Temos convicção de que o Felipão será respeitado e entendido pelos jogadores que temos. Por mais que haja uma incerteza de projetos e fé no sucesso que almejamos no início da temporada, podemos crer que um técnico multicampeão e desejado pelo elenco será alento após um infortúnio de passagens estrangeiras que desconhecem a força e história do nosso Galo no cenário do futebol. Apesar de Coudet, amanhã há de ser um novo dia !

Resumo e ficha técnica

Em 1982, Felipão começava sua trajetória de treinador no CSA de Alagoas, vencendo o Alagoano da temporada.
Galgando degraus, Scolari voltou ao Sul, onde se destacou no Juventude e tempos depois viria a ser treinador do Grêmio campeão estadual de 1987, mas foi em 1991 que deu seu grande salto ao colocar o Criciúma em evidência no país ao vencer a Copa do Brasil.
Em 1993, voltou ao Grêmio e ganhou tudo. Copa do Brasil, Libertadores e Brasileirão, respectivamente, nos anos de 1994/95/96. Depois disso, foi vitorioso no Palmeiras, passou pelo Cruzeiro e venceu a Copa do Mundo de 2002.
Felipão ainda foi muito bem na seleção de Portugal, chegando às finais da Europa 2004 e chegou às semifinais da Copa de 2006 com os lusitanos. No Chelsea, chegou em 2008, começou bem, mas mesmo com aproveitamento de 62% foi demitido em 2009 após uma série de maus resultados. Em 2009, ainda treinou e ganhou o campeonato do Uzbequistão de forma invicta com o Bunyodkor.

Retorno ao Brasil

Depois disso, retornou ao Palmeiras em 2012 e venceu a Copa do Brasil de forma invicta naquele ano. Mesmo assim, pouco depois foi demitido do clube paulista por maus resultados no Brasileirão.
Ainda em 2012, Felipão retorna à seleção, vence a Copa das Confederações em 2013 e chega às semifinais da Copa do Mundo disputada no Brasil, quando perde de maneira acachapante no famoso 7×1 para os alemães.
Em julho de 2014, Felipão volta ao Grêmio e dura pouco. Após desgastes, deixou o tricolor gaúcho em maio de 2015. Logo depois, o treinador, em junho, foi anunciado pelo Guangzhou Evergrande, ganhando o Chinês da temporada.
Mais uma vez no Palmeiras, em sua terceira passagem venceu o Brasileirão de 2018. Por fim, treinou o Cruzeiro em 2020 com a missão de livrar o time do rebaixamento para a série C e obteve êxito no objetivo.
Em 2021, de volta ao Grêmio pela quarta vez não obteve grandes resultados, ficando cerca de três meses no tricolor gaúcho. Em 2022, com o Athletico-PR, chegou à final da Libertadores pelo Furacão, perdendo a decisão para o Flamengo.

Luiz Felipe Scolari
Nascimento: 9/11/1948 (74 anos)
Passo Fundo, Rio Grande do Sul

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