Não seria um exagero afirmar que o duelo entre Flamengo e Fortaleza foi um retrato do futebol doméstico atual. O time que os críticos consideram “o melhor do Brasil” e o seu adversário, tido como “emergente”, protagonizaram um monte de bobagens, tornando o jogo, em função disso, muito, digamos, animado. O Flamengo venceu por 2 a 1, mas o placar poderia ser 5 a 4, ou 6 a 5, quem sabe até ao contrário.

Aliás, vale avisar daqui para quem não conhece: jogando assim, tresloucadamente, o Flamengo será eliminado pelo Defensa y Justicia, que é um “Bragantino” da Argentina, e no entanto com maiores pretensões, a de ganhar títulos, por exemplo, ao contrário do genérico paulista, que só briga por vaga em competição continental, nada além.

Começou. Apesar do entusiasmo dos comentaristas, o Flamengo não executava nada de novo, pois tinha a posse da bola, deixando o Fortaleza na esperança de acertar os contra-ataques. Assim, como ocorre eventualmente, o time carioca fez 1 a 0: Bruno Henrique tomou de Felipe e bateu no canto direito. Mas ocorre com habitual freqüência, diminuiu o ritmo, e obrigou o adversário a sair para o jogo, explorando as falhas habituais da zaga carioca. Interessante: os adversários do Rubro-Negro começam atrás, e invariavelmente esperam levar o gol para ameaçá-lo, o que não é nenhum bicho de sete cabeças. Logo, acontece o oposto, ou seja, o Flamengo sai nos contra-ataques, e desperdiça um punhado de oportunidades, ao contrário do que o time poderoso de 2019 fazia, liquidando o rival, muitas vezes antes do intervalo. Exemplos imediatos: aos 29, Michael disparou, invadiu a área sem marcação, e chutou em cima do goleiro. Aos 32, Yago Pikachu conseguiu acertar fora dos sete metros escancarados à sua frente. E a partida permanece indefinida. O tempo vai passando, lá e cá, e uma das equipes pode marcar a qualquer momento. É divertido para quem não é torcedor de nenhum dos lados acompanhar as partidas do Flamengo, pois não há dúvida de que haverá bola na rede. E assim se fez. Aos 43, Bruno Henrique, que estava com a pontaria em dia, bateu de fora da área e meteu 2 a 0.

Seria importante lembrar que com as trapalhadas da defesa vermelha e preta, vide a derrota para o Bragantino, não há nada decidido. Mas, a propósito, pelo que jogava, e pela quantidade de equívocos que a retaguarda do Fortaleza cometeu, incluindo o goleiro, o time de 2019 teria mandado o tricolor cearense para o espaço ainda no primeiro tempo. Aguardemos, pois, o que será.

Na mosca. Antes que as mudanças efetuadas por Juan Vojvoda surtissem efeito, o Fortaleza marcou aos 20 segundos, com David, aproveitando que havia espaço de sobra, dado que o adversário não regressara para o segundo tempo. Mas é fato que o barco continuou a navegar, como ocorrera na etapa inicial. Bruno Henrique acertou o travessão. E o repórter ressaltou que Rogério Ceni estava irritado com Vitinho. Curioso. Só o técnico. Mais ninguém. Aliás, como dito, é divertido para quem não é torcedor de nenhum dos lados acompanhar as partidas do Flamengo, pois não há dúvida que haverá bola na rede. Ou pior, oportunidades em penca, muitas vezes desperdiçadas de forma bizarra. A ideia, aos 15 minutos, é a de que o empate surgirá a qualquer momento, embora o time nordestino, muito animado, e ansioso, dê a impressão que deseja comer a sobremesa antes do almoço, e que poderá, assim, entregar novamente o ouro. É lá e cá. Quem errará a próxima? Gérson, em sua despedida, perdeu a chance na pequena área. Lucas Crispim bate forte e Diego Alves faz o milagre.

Restam 10 minutos e o comentarista adverte: “o Flamengo dá chance ao azar”. Seria mais lógico afirmar que os times são eventualmente incompetentes, pois não sabem, ou não conseguem aproveitar, as falhas alheias. Acréscimo de cinco minutos. O Fortaleza joga a bola na área. É um deus nos acuda. E veio, enfim, o fim do papo. Mas deixe a ambulância de plantão. Pois vamos agora às fortes emoções da fantástica Copa América.

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