A crise do Botafogo fixa nome e sobrenome: Bruno Miguel Silva do Nascimento, o impopular Bruno Lage, grande vilão na trajetória alvinegra rumo ao tricampeonato nacional, título inédito em 28 anos e fundamental para as novas gerações. Ao cruzar o Atlântico e assinar contrato com o Mais Tradicional até o fim desta temporada, o inepto técnico português recebeu robustos vencimentos e teve algumas benesses que este reles colunista faz questão de sublinhar. A saber:
1) Tempo de sobra para trabalhar e conhecer o elenco
Há mais de dois meses no Botafogo, o treinador lusitano se aproximaria do segundo período de paralisação para a Data-Fifa, ou seja, contaria com mais de uma semana para corrigir os erros. Pelo menos, na teoria, diga-se passagem. Além disso, entre a derrota para o Corinthians e o empate com o Goiás, ganhou dez dias de atividades para esfriar a cabeça e colocar uma lupa sobre o mau momento do Glorioso. Sem contar que o time alvinegro não está mais na Copa Sul-Americana e foca, desde o início de setembro, exclusivamente nesta edição do Campeonato Brasileiro. Não há maratonas, viagens longas ou desgastes por conta da logística. O deslocamento mais longe será para Fortaleza, somente no fim de outubro.
2) Apoio incondicional de uma massa mobilizada
Antes de tudo, a galera abraçou a equipe, não importa horário ou dia da semana. Por exemplo, os botafoguenses foram receber a delegação no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro logo depois da eliminação nas quartas de final da Sul-Americana, na Argentina. Após a quarta derrota seguida, compareceram em bom número no treino aberto do último sábado. No Estádio Nilton Santos, o time só joga com casa cheia, com direito a mosaicos inigualáveis. Não houve, portanto, ambiente de cobrança externa.
3) Time ajustado, entrosado e com uma forma de jogo estabilizada
Em 2023, o Glorioso se notabilizou por ser uma equipe letal na transição. Com espaço, saía da defesa ao ataque de forma avassaladora. Sob as orientações do técnico Luís Castro, antecessor de Lage, o Botafogo conseguia se impor sobre seus adversários até mesmo com uma posse de bola inferior nesta edição do Brasileirão. Do goleiro ao ponta- esquerda, o Alvinegro se destacou em todas as posições.
4) Distância oceânica na tabela
O Botafogo terminou a primeira metade do Campeonato Brasileiro vencendo os maiores candidatos ao título e adversários duríssimos: Flamengo, Palmeiras, Atlético, Grêmio, Fluminense e Fortaleza. No tapetinho, obteve 100% de aproveitamento (Lage contribuiu com duas vitórias, é verdade). Em agosto, o Glorioso tinha 13 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, com os demais postulantes do G4 mais próximos ao Z4 do que do líder isolado do torneio.
5) Melhor ambiente possível
O conceito de “família” permaneceu após a difícil saída do técnico Luís Castro, hoje no Al-Nassr, da Arábia Saudita. Com o interino Cláudio Caçapa, responsável por entregar a Lage um time com 100% de aproveitamento (quatro jogos, quatro vitórias), os jogadores nunca estiverem tão conectados ao “botafoguismo”. Dentro das quatro linhas, confiança total e atletas potencializados. Fora de campo, lançamento de produtos oficiais, número de sócios aumentando consideravelmente e seguidores muito empolgados.
Bruno Lage, por sua vez, entregou:
1) Queijo suíço
A defesa era o ponto forte do Botafogo. Uma verdadeira fortaleza. Com Caçapa, aliás, não sofreu nenhum gol em quatro compromissos. Números impressionantes. Veio Lage. O time perdeu sua marca, muitas vezes, de forma infantil. É o goleiro que fica de costas para a bola, gol contra no primeiro minuto de jogo e marcação frouxa na bola aérea. O técnico optou também por linhas altas com frequência, deixando a retaguarda exposta. Agora, a torcida conta nos dedos as partidas nas quais o time saiu de campo incólume.
2) Invenções estapafúrdias
Contra o Flamengo, saiu com Segovinha e JP Galvão pelo lado direito e concedeu a liberdade que Bruno Henrique precisava para decretar a primeira derrota do Botafogo no tapetinho. Contra o Goiás, trouxe Tchê Tchê para a lateral direita para lançar um volante sonolento como Pires no meio de campo. O mais preocupante, no entanto, foi colocar Tiquinho, craque do campeonato, no banco, sem razões clínicas. Seria o mesmo que o treinador da Argentina barrasse Messi, sem os mesmos motivos, em uma partida de Copa do Mundo.
3) Pirraça e instabilidade
Após o clássico contra o Flamengo, no Colosso do Subúrbio, o treinador teve a proeza de colocar o cargo à disposição com seu time sustentando 11 pontos de vantagem sobre o segundo colocado na classificação. Na ocasião, expôs uma narrativa inverossímil de pressão sobre o grupo. Tentou voltar atrás, mas seu gesto pegou muito mal no universo preto e branco. A torcida não esquece o episódio e o recorda, com razão, neste momento de crise mais acentuada.
4) Campanha e desempenho de rebaixado
O Botafogo estaria somente na 16ª colocação, com cinco pontos em 18 disputados, se o Brasileirão começasse a partir do início do returno. Assim, o desempenho é de time que beira o Z4. A equipe é um deserto de ideias, e a bola queima fácil nos pés de alguns jogadores importantes no primeiro turno. Para piorar, a distância para o segundo colocado caiu pela metade. E Lage ainda deixou o pelotão que está atrás se aproximar. Hoje, a torcida seca, freneticamente, pelo menos, três adversários.
5) Rebeldia fora de hora
Lage foi escolhido pela SAF do Botafogo para manter o trabalho do antecessor. Ninguém nega que o técnico é uma grife, afinal, na Europa, sagrou-se campeão português pelo Benfica e treinou time de Premier League. Em suas primeiras palavras, assegurou que faria, principalmente, uma “transição pacífica”. Nos primeiros jogos, parecia cumprir o discurso. No entanto, veio o duelo contra o Flamengo, e o português entrou em uma egotrip sem volta. Insiste em colocar suas digitais na equipe e, atrapalhado, mostra um total desconhecimento do clube que paga o seu salário.
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