México e Honduras se enfrentaram diante de 70 mil espectadores, no último sábado, em amistoso realizado em Atlanta, nos Estados Unidos. Sim, parece um filme de ficção ver as pessoas juntas, despreocupadas com a pandemia e retomando as atividades interrompidas no ano passado por conta do avanço do coronavírus. Em um estádio de futebol, local de confraternização de velhas e novas amizades, a sensação de bem-estar aumenta ainda mais.

Os Estados Unidos fizeram a lição de casa diante da Covid-19. Com o país caminhando para imunização plena da população, o governo de Joe Biden pode dar-se ao luxo de doar vacinas (claro que o Brasil, com sua diplomacia arranhada graças a masturbações ideológicas, está fora da lista). Os europeus também estão longe de um cenário complicado e até desfrutam de uma Eurocopa com a presença de público, embora sem a lotação máxima de suas arenas. Um soco no estômago de quem tratou a pandemia com desdém e como uma “gripezinha”.

México enfrenta Honduras sob o olhar de 70 mil pessoas – Elijah Nouvelage /AFP

O Brasil, potência continental e melhor vitrine para o sucesso de renomadas empresas farmacêuticas, poderia sonhar com a mesma conjuntura se o governo federal não tivesse boicotado, por ações e omissões, a vacinação em larga escala. Dezenas de milhões de cidadãos foram privados da imunização contra o coronavírus por obra do negacionismo criminoso de seu chefe de Estado, que demonizou as máscaras, pregou contra o distanciamento social, estimulou aglomerações, recomendou remédios sem eficácia comprovada e insistiu na tese da “imunidade de rebanho”, desconsiderando as novas variantes mais transmissíveis do vírus, a probabilidade de reinfecção e o número maior de óbitos.

Na semana passada, marcada pelo aumento de casos, um dirigente do Flamengo, contra os protocolos de Saúde Pública, defendeu o retorno dos torcedores aos estádios – com apenas 11% da população vacinada -, sob o argumento de que “Covid é um processo natural”. Uma perversidade já esperada diante do alinhamento da diretoria do clube com o Planalto. Gostaria de saber qual “processo natural” mata 2.500 brasileiros por dia (quase meio milhão no total desde março de 2020), deixa leitos de UTIs lotados e torna o país um dos líderes em mortos por milhão de habitantes.

Na Terra Papagalli, festas nas arquibancadas são limitadas às lembranças e aos “tebetês” das redes antissociais. Ainda teremos de ouvir os deboches por algum tempo. Malditos sejam aqueles que nos roubaram o direito de sonhar com estádios cheios novamente.

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