Reprodução TV
Uma pancada forte demais. A derrota do Brasil contra a Croácia mexeu como há muito tempo não ocorria.
Desconsiderando todo o contexto meramente comercial da CBF, que quase sempre pensou só na “plata”, ao ver Richarlison, Vini, Rodrygo e Neymar em campo, as crianças se sentiram identificadas com os atletas. Ali, acreditaram no futebol feliz, no drible e na alegria ensolarada da camisa amarela, mesmo que a “original”, vendida em lojas esportivas, custasse mais de R$ 300,00.
Mas quando Neymar driblou o goleiro Dominik e fez o gol que classificaria o Brasil para as semifinais, uma vibração diferente veio no ar. Eram amigos, filhos e desconhecidos, sei lá … Por poucos minutos, poucos mesmo, o brasileiro viveu o futebol na essência. O apaixonado por futebol se abraçou nas praças sem pesquisar o que cada um que estava ao seu lado pensava no Twitter ou Instagram, era um momento bêbado, inconscientemente ótimo, alienante e brasileiro, sem a tal “plena razão” fanática que consumiu o misticismo que em nós há. Naquele momento, eram todos miscigenados, felizes e tolerantes. O gol, mesmo que por fração de segundos, podia ser coletivo, podia ser sem mágoa, era do Brasil, na pele do Neymar.
Porém, infelizmente, num contra-ataque, a festa foi para o ar. Um gol nos últimos minutos da prorrogação abaixava o ânimo e jogava a realidade toda na nossa cara. A dura sobriedade, rapidamente foi restabelecida, estava pronta para o eterno e cultural nacional, o “defenestrar”. Era hora de achar o vilão e, sem hipocrisias, cada um de nós quis escolher o seu “malvado favorito”, pelo menos, por instantes.
Os pênaltis vieram e “não rolou” a vitória. No entanto, algumas coisas foram ensinadas por nossas crianças. Fosse no choro que escorria na blusa amarela ou na mensagem abismada e direta de dizer:
“Poxa! Estamos falando de Brasil, me confundiram todo. O Neymar é amigo do Richarlison, por que algumas pessoas torcem por um jogador e não por outro? Onde está o sentido de ser brasileiro? Adultos são egoístas, não pensam em time, não pensam no Brasil.”
Mas, talvez, o choro das crianças, as observações diretas dos seus sentimentos de amor ao Brasil, a maturidade de Neymar ao abraçar com carinho uma criança croata que queria cumprimentá-lo logo após o jogo, ou mesmo as lágrimas intermináveis de Richarlison na grade, podem nos dar uma esperança …
… A esperança de ter a transformação dessas crianças de hoje em adolescentes mais resilientes daqui a quatro anos, mais apaixonados pelo seu país e mais propícios a separar divergências quaisquer por um ideal maior.
Daqui a quatro anos, talvez estejamos mais maduros com as diferenças e saibamos onde elas são necessárias e onde possam caber. Mas no choro do revés, no desabafo e no abraço, sem “Insta” e Twitter, ficaram no inconsciente os poucos minutos de um gol, o gol do abraço sem lastro, sem contaminação, sem rastro, sem pedigree.
Mostra a sua força, Brasil! A derrota, para quem entende a mensagem, forja quem saberá um dia vencer. Afinal, o Brasil se reconectou com as crianças e não foi no Wi-Fi, uai!
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