Foi no começo do ano. Os cartolas do Flamengo escolheram o melhor roteiro que havia em Hollywood para que o seu time de futebol voltasse a conquistar (quase) todos os títulos. Fizeram contratações até então inquestionáveis, aproveitaram meninos que ganharam tudo nas competições de base em 2019, e renovaram contrato com Jorge Jesus, um deus, na visão ufanista da maioria esmagadora. Como se não bastasse, costuraram uma decisão de Libertadores no Maracanã, e ainda reforçaram a aproximação com o Governo. Enfim os cartolas projetaram o melhor dos mundos para 2020. Para atrapalhar, só a praga das Eliminatórias para a Copa de 2022.

Pois o ano começou dentro das previsões. Os meninos deram conta do recado. Os marmanjos voltaram das férias, receberam o bastão, e em pouco tempo levantaram a Taça Guanabara, a Recopa Sul-Americana e a Supercopa do Brasil. Como era previsto. Até o surgimento da maldita Covid. Na esteira da doença, vieram a ausência do público, os desfalques inevitáveis, o adeus de Jesus, que saiu pela porta dos fundos, e a indefinição em relação às principais estrelas, conseqüência das propostas que vinham de fora, e do olho grande que surge em todos os setores – quando o dinheiro parece farto. E os contratados, hein? À exceção de Thiago Maia, decepcionaram.

Daí em diante, o Flamengo passou a jogar um futebol bem inferior ao de 2019, já visível na decisão do Estadual, e evidente nas goleadas vexatórias, tão comuns em tempos recentes, que todos julgavam enterradas. Houve, é claro, a chegada do turista acidental, o Domenèc Torrent, um dos maiores equívocos da história. E pior: os torcedores do clube passaram a conviver com a imagem desgastada pela bajulação excessiva ao Governo e pela complexa questão referente à tragédia do Ninho. Como se não bastasse, outra doença contagiosa, a das convocações, passou a ser um fato real. A quem interessam hoje, de fato, esses torneios de seleções nacionais?

Apesar disso tudo, que não é pouco, o Flamengo ainda saiu no lucro por um tempo. Conquistou o campeonato do Rio – da maior importância, pois são cinco títulos à frente da antiga hegemonia tricolor, que permaneceu de 1906 a 2009, costurou um novo patrocinador máster, e continuou vivo, aos trancos e barrancos, em três competições, a Copa do Brasil, o Brasileiro e a Libertadores.

Mas a eliminação – lamentável derrota de 3 a 0 – diante do São Paulo na Copa do Brasil, que sempre pareceu inevitável desde a irresponsabilidade de um goleiro imaturo e deslumbrado, pode representar um capítulo crucial na desconstrução do itinerário prenunciado no roteiro hollywoodiano, que à exceção do vírus absolutamente imprevisível, prometeu o melhor dos mundos, e vê agora um fim de 2020 e começo de 2021 repleto de problemas, que ameaçam deixar bem distante a glória de um novo título mundial, que o Rubro-Negro, aliás, não ganhou no ano passado.

Acreditar no Flamengo atual, excêntrico fora do campo e sem qualquer atitude dentro dele, e na sua salada de trapalhadas, é preparar o sapatinho para Papai Noel presenteá-lo no dia do Natal.

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