O Real Madrid, na realidade, está longe de ser um exemplo. É fato que na década de 1950 recebeu a, digamos, simpatia, do generalíssimo Francisco Franco, que chefiou uma ditadura na Espanha, de 1936 a 1975. Não seria um exagero afirmar que o caudilho protegeu o clube para fazê-lo instrumento de propaganda de seu governo, prática que estendeu à Seleção do país, até torná-la campeão da Europa, em 1964.
É do conhecimento geral que Franco, à custa de muita repressão, para ficar só nisso, colocou a Espanha em outro patamar no continente. Sob o aspecto econômico. Mas não fosse o futebol jogado pelo Real Madrid de Di Stefano, as ditas benfeitorias, numa época distante das parafernálias eletrônicas de hoje, não teriam a mesma repercussão.
Bola de Ouro esvaziada
Os tempos, por lá e por aqui, mudaram. Mas conceitos arraigados, e notadamente absurdos, como o autoritarismo, o machismo e o racismo, continuam eventualmente soltos. Ao tomar conhecimento que Vinícius Júnior – favorito -não receberia a Bola de Ouro, decidiu esvaziar a cerimônia de entrega do troféu. Celebração realizada em Paris sob indisfarçável constrangimento, pela ausência de personalidades importantes. E sob a sombra do preconceito que afastou o atacante brasileiro – negro na essência – do primeiro prêmio.
Talvez o Real Madrid queira, com o ato, apagar ou disfarçar a sua história. E emprestar a sua solidariedade ao seu craque.
Mas o repugnante hábito de segregar, que a própria Fifa garante, com muita freqüência, que condena efetivamente, mais uma vez se manifestou em rede mundial.
É extremamente cansativo elaborar críticas a este comportamento abjeto, mas todas as vezes que o fato se manifesta, é imprescindível combatê-lo, pouco importando o evento ou o acontecimento – individual ou coletivo – como a tal solenidade da segunda-feira em Paris deixou evidente.
E o que mais espantou, e que também já seria suficiente para indignar qualquer um, foi a presença de negros – mal ou bem – compactuando com o teatro de marionetes. Pior é que ano que vem, quem sabe, tem mais. E fica tudo, como dito, “por isso mesmo”.
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