O Brasil tornou-se o epicentro do coronavírus e atravessa o momento mais dramático da pandemia. Beneficiada pela transmissão desenfreada e pela falta de cuidados sanitários, a peste desenvolve novas linhagens e transforma o “país tropical, abençoado por Deus” em laboratório a céu aberto de novas mutações mais perigosas. A equação do desastre resulta, há quase dois meses, em mais de mil mortos a cada 24 horas (2.349 na última quarta-feira, com a curva na direção dos 3 mil óbitos diários, segundo os especialistas).

Sem vacina para grande parte da população, sem campanhas de conscientização, sem esforço coletivo, com hospitais lotados e governado por negacionistas que ensaiam mudar a conduta a favor do bom senso somente quando os adversários políticos ganham os holofotes, o Brasil caminha a passos largos para a maior tragédia de sua história. Um verdadeiro genocídio.

Clubes, CBF e demais entidades esportivas defendem os seus protocolos e lembram que as testagens são feitas com frequência, embora esqueçam algo lógico: o futebol funciona a partir de uma logística através da qual envolve viagens e uma série de deslocamentos. É movimento constante. Mesmo sem público nos estádios, já causou aglomerações diversas vezes e provocou surtos nos elencos, desequilibrando o jogo.

Diante dos números que consolidam o país como pária internacional e lugar a ser evitado pelo planeta, a pergunta a ser feita não é mais se o futebol é seguro ou não em território nacional. Deveríamos questionar se há clima para a bola continuar rolando em um cenário tão desolador.

É confortável para um jornalista cujos rendimentos estão ligados ao futebol argumentar a favor da continuação dos campeonatos. Porém, a missão de falar sobre esquemas táticos, transferências, escalações, clássicos e classificações é algo desorientador diante da realidade, que esfrega, em nossa cara, mais de 2 mil cadáveres por dia, como ocorreu nesta semana.

O esporte não é o Big Brother, um entretenimento temporário para quem está em casa. É, tampouco, uma ilha, como frisou o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, em entrevista ao Jogada10. O futebol, como uma grande manifestação popular, não pode ficar alheio à dor dos brasileiros e estabelecer o seu “novo normal”. Infelizmente, não fizemos o dever de casa, como o resto do mundo. Não faz sentido seguir com as atividades no momento em que a pandemia está mais letal do que no ano passado, quando o Brasil parou. São Paulo deu o primeiro passo. É momento, pois, de pressionar as autoridades por uma vacinação em massa.

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