No fim do século 19, depois que se proibiu  a escravidão no Brasil, nosso país passou a importar trabalhadores europeus, em especial, da Itália, Japão e Alemanha. Boa parte desses foi recrutada pelas fazendas, que construíram conjuntos de casas para as famílias. Eram funcionais e modestas, nada comparáveis que a casa dos patrões.
Até por falta de meios de transporte para as cidades mais próximas, os trabalhadores passavam a viver quase 100% dentro das fazendas. Compravam das vendas internas, usavam os médicos locais e seus filhos estudavam nas escolas da fazenda.
Uma das maiores foi a Fazenda Amália, na região de Ribeirão Preto. Nos anos 50, foi comprada por um imigrante, Francisco Matarazzo, que por um tempo foi considerado o homem mais rico do Brasil. Meu melhor amigo da adolescência nasceu lá.
No Qatar, em pleno século 21, de uma certa forma, ainda há semelhança com isso.

Num país de um luxo de fazer cair o queixo, o Qatar tem 10% de nacionais, menos de 10% de trabalhadores qualificados (a grande maioria brancos) e mais de 80% de trabalhadores braçais, do sul da Ásia (Índia, Bangladesh e Nepal, na maioria).
Trabalham para pagar as dívidas com as agências de emprego e depois para mandar dinheiro para a família. Atualmente, têm permissão para trocar de emprego, mas na prática isso quase não acontece. Fora dos bairros-dormitório onde vivem, o custo de vida é tão mais alto que poucos saem até para passear. Assim, mesmo estando em cidades grandes, sua vida parece com a de uma fazenda do Brasil de 130 anos atrás, guardadas as diferenças de tecnologia, de riqueza e costumes das duas épocas.

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